Simulado 01 - Língua Portuguesa 3ª SÉRIE EM SPAECE
NAMORO
O melhor do namoro, claro, é o ridículo. Vocês dois no telefone:
- Desliga você.
- Não, desliga você.
- Você.
- Você.
- Então vamos desligar juntos.
- Tá. Conta até três.
- Um...Dois...Dois e meio...
Ridículo agora, porque na hora não era não. Na hora nem os apelidos secretos que vocês tinham um para o outro, lembra?, eram ridículos. Ronron. Suzuca. Alcizanzão. Surusuzuca. Gongonha. (Gongonha!) Mamosa. Purupupuca...
Não havia coisa melhor do que passar tardes inteiras no sofá, olho no olho, dizendo.
- As dondozeira ama os dondonzeiro?
- Ama.
- Mas os dondonzeiro ama as dondonzeira mais do que as dondonzeira ama os dondonzeiro.
- Na-na-não. As dondonzeira ama os dondonzeiro mais do que etc....
E, entremeando o diálogo, longos beijos, profundos beijos, beijos mais do que de língua, beijos de amígdalas, beijos catetéticos. Tardes inteiras. Confesse: ridículo só porque nunca mais.
Depois do ridículo, o melhor do namoro são as brigas. Quem diz que nunca, como quem não quer nada, arquitetou um encontro casual com a ex ou o ex só para ver se ela ou ele está com alguém, ou para fingir que não vê, ou para ver e ignorar, ou para dar um abano amistoso querendo dizer que ela ou ele agora significa tão pouco que podem até ser amigos, está mentindo. Ah, está mentindo.
E melhor do que as brigas são as reconciliações. Beijos ainda mais profundos, apelidos ainda mais lamentáveis, vistos de longe. A gente brigava mesmo era para se reconciliar depois, lembra? Oito entre dez namorados transam pela primeira vez fazendo as pazes. Não estou inventando. O IBGE tem as estatísticas.
(VERÍSSIMO, Luís Fernando. Correio Braziliense. 13/06/1999.)
01. (D1) No texto, considera-se que o melhor do namoro é o ridículo associado
A) às brigas por amor.
B) às mentiras inocentes.
C) às reconciliações felizes.
D) aos apelidos carinhosos.
E) aos telefonemas intermináveis.
Todo ponto de vista é a vista de um ponto
Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.
Todo ponto de vista é um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura.
A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação.
BOFF, Leonardo. A águia e a galinha. 4ª ed. RJ: Sextante, 1999
02. (D3) A expressão “com os olhos que tem”, no texto, tem o sentido de
A) enfatizar a leitura.
B) incentivar a leitura.
C) individualizar a leitura.
D) priorizar a leitura.
E) valorizar a leitura.
Canguru
Todo mundo sabe (será?) que canguru vem de uma língua nativa australiana e quer dizer “Eu Não Sei”. Segundo a lenda, o Capitão Cook, explorador da Austrália, ao ver aquele estranho animal dando saltos de mais de dois metros de altura, perguntou a um nativo como se chamava o dito. O nativo respondeu guuguyimidhirr, em língua local, Gan- guruu, “Eu não sei”. Desconfiado que sou dessas divertidas origens, pesquisei em alguns dicionários etimológicos. Em nenhum dicionário se fala nisso. Só no Aurélio, nossa pequena Bíblia – numa outra versão dicionário se fala nisso. Só no Aurélio, nossa pequena Bíblia – numa outra versão.
Definição precisa encontrei, como quase sempre, em Partridge: Kangarroo; wallaby
As palavras kanga e walla, significando saltar e pular, são acompanhadas pelos sufixos rôo e by , dois sons aborígines da Austrália, significando quadrúpedes.
Portanto quadrúpedes puladores e quadrúpedes saltadores.
Quando comuniquei a descoberta a Paulo Rónai, notável linguista e grande amigo de Aurélio Buarque de Holanda, Paulo gostou de saber da origem “real” do nome canguru. Mas acrescentou: “Que pena. A outra versão é muito mais bonitinha”. Também acho.
Millôr Fernandes, 26/02/1999, In http://www.gravata.com/millor.
03. (D2) Pode-se inferir do texto que
(A) as descobertas científicas têm de ser comunicadas aos linguistas.
(B) os dicionários etimológicos guardam a origem das palavras.
(C) os cangurus são quadrúpedes de dois tipos: puladores e saltadores.
(D) o dicionário Aurélio apresenta tendência religiosa.
(E) os nativos desconheciam o significado de canguru.
RETRATO
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
—Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Cecília Meireles: poesia, por Darcy Damasceno. Rio de Janeiro: Agir, 1974. p. 19- 20.
04. (D5) O tema do texto é
A) a consciência súbita sobre o envelhecimento.
B) a decepção por encontrar-se já fragilizada.
C) a falta de alternativa face ao envelhecimento.
D) a recordação de uma época de juventude.
E) a revolta diante do espelho.
Senhora
Aurélia passava agora as noites solitárias.
Raras vezes aparecia Fernando, que arranjava uma desculpa qualquer para justificar sua ausência. A menina que não pensava em interrogá-lo, também não contestava esses fúteis inventos. Ao contrário buscava afastar da conversa o tema desagradável.
Conhecia a moça que Seixas retirava-lhe seu amor; mas a altivez de coração não lhe consentia queixar- se. Além de que, ela tinha sobre o amor ideias singulares, talvez inspiradas pela posição especial em que se achara ao fazer -se moça.
Pensava ela que não tinha nenhum direito a ser amada por Seixas; e pois toda a afeição que lhe tivesse, muita ou pouca, era graça que dele recebia. Quando se lembrava que esse amor a poupara à degradação de um casamento de conveniência, nome com que se decora o mercado matrimonial, tinha impulsos de adorar a Seixas, como seu Deus e redentor.
Parecerá estranha essa paixão veemente, rica de heroica dedicação, que entretanto assiste calma, quase impassível, ao declínio do afeto com que lhe retribuía o homem amado, e se deixa abandonar, sem proferir um queixume, nem fazer um esforço para reter a ventura que foge.
Esse fenômeno devia ter uma razão psicológica, de cuja investigação nos abstemos; porque o coração, e ainda mais o da mulher que é toda ela, representa o caos do mundo moral. Ninguém sabe que maravilhas ou que monstros vão surgir nesses limbos.
ALENCAR, José de. Capítulo VI. In: __. Senhora. São Paulo: FTD, 1993. p. 107- 8.
05. (D6) O narrador revela uma opinião no trecho
A) “Aurélia passava agora as noites solitárias.”
B) “...buscava afastar da conversa o tema desagradável.”
C) “...tinha impulsos de adorar a Seixas, como seu Deus...”
D) “...e se deixa abandonar, sem proferir um queixume,...”
E) “Esse fenômeno devia ter uma razão psicológica,...”
06. (D4) O comportamento da personagem Pina no terceiro quadrinho sugere
A) caridade.
B) entusiasmo.
C) gratidão.
D) interesse.
E) satisfação.
A sombra do meio- dia
A Sombra do Meio - Dia é o belo título de um romance lançado recentemente, de autoria do diplomata Sérgio Danese. O livro trata da glória (efêmera) e da desgraça (duradoura) de um ghost -writer, ou redator-fantasma – aquele que escreve discursos para outros. A glória do ghost-writerde Danese adveio do dinheiro e da ascensão profissional e social que lhe proporcionaram os serviços prestados ao patrão –um ricaço feito senador e ministro, ilimitado nas ambições e limitado nos escrúpulos como soem ser as figuras de sua laia. A desgraça, da sufocação de seu talento literário, ou daquilo que gostaria que fosse talento literário, posto a serviço de outrem, e ainda mais um outrem como aquele. As exigências do patrão, aos poucos, tornam -se acachapantes. Não são apenas discursos que ele encomenda. É uma carta de amor a uma bela que deseja como amante. Ou um conto, com que acrescentar, às delícias do dinheiro e do poder, a glória literária. Nosso escritor de aluguel vai se exaurindo. É a própria personalidade que lhe vai sendo sugada pelo insaciável senhorio. Na forma de palavras, frases e parágrafos, é a alma que põe em continuada venda.
Roberto Pompeu de Toledo, Revista VEJA, ed.1843, 3 de março de 2004. Ensaio p. 110.
07. (D10) O texto foi escrito com o objetivo de
A) conscientizar o leitor.
B) apresentar sumário de uma obra.
C) opinar sobre um livro.
D) dar informações sobre o autor.
E) narrar um fato científico.
Texto I
Carta
(Fragmento)
A terra não pertence ao homem; é o homem que pertence à terra. Disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. O que fere a terra fere também os filhos da terra. Não foi o homem que teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo que ele fizer à trama, a si próprio fará.
Carta do cacique Seattle ao presidente dos EUA em 1855.Texto de domínio público distribuído pela ONU.
Texto II
Dicionário de Geografia
(Fragmento)
Segundo o geógrafo Milton Santos: “o espaço geográfico é a natureza modificada pelo homem através do seu trabalho”. E “o espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções”.
GIOVANNETTI, G. Dicionário de Geografia. Melhoramentos, 1996.
08. (D12) Os dois textos diferem, essencialmente, quanto
A) à abordagem mais objetiva do texto I.
B) ao público a que se destina cada texto.
C) ao rigor científico presente no texto II.
D) ao sentimentalismo presente no texto I.
E) ao tema geral abordado por cada autor.
Quando a separação não é um trauma
A Socióloga Constance Ahrons, de Wisconsin, acompanhou por 20 anos um grupo de 173 filhos de divorciados. Ao atingir a idade adulta, o índice de problemas emocionais nesse grupo era equivalente ao dos filhos de pais casados. Mas Ahrons observou que eles "emergiam mais fortes e mais amadurecidos que a média, apesar ou talvez por causa dos divórcios e recasamentos de seus pais". (...) Outros trabalhos apontaram para conclusões semelhantes. Dave Riley, professor da universidade de Madison, dividiu os grupos de divorciados em dois: os que se tratavam civilizadamente e os que viviam em conflito. Os filhos dos primeiros iam bem na escola e eram tão saudáveis emocionalmente quanto os filhos de casais "estáveis". (...)
Uma família unida é o ideal para uma criança, mas é possível apontar pontos positivos para os filhos de separados. "Eles amadurecem mais cedo, o que de certa forma é b om, num mundo que nos empurra para uma eterna dependência.”
REVISTA ÉPOCA, 24/1/2005, p. 61 -62. Fragmento.
09. (D13) No texto, três pessoas posicionam-se em relação aos efeitos da separação dos pais sobre os filhos: uma socióloga, um professor e o próprio autor. Depreende -se do texto que
A) a opinião da socióloga é discordante das outras duas.
B) a opinião do professor é discordante das outras duas.
C) as três opiniões são concordantes entre si.
D) o autor discorda apenas da opinião da socióloga.
E) o autor discorda apenas da opinião do professor.
A Ciência é Masculina?
Attico Chassot
Editora Unisinos, RS (51) 590-8239.
104 págs. R$ 12.
O autor procura mostrar que a ciência não é feminina. Um dos maiores exemplos que se pode dar dessa situação é o prêmio Nobel, em que apenas 11 mulheres de ciências foram laureadas em 202 anos de premiação. O livro apresenta duas hipóteses, uma histórica e outra biológica, para a possível superação do machismo em frase como a de Hipócrates (460-400 a.C.) considerado o pai da medicina, que escreveu: “A língua é a última coisa que morre em uma mulher”.
Revista GALILEU, Fevereiro de 2004
10. (D13) A expressão “dessa situação” refere- se ao fato de
A) a ciência não ser feminina.
B) a premiação possuir 202 anos.
C) a língua ser a última coisa que morre em uma mulher.
D) o pai da medicina ser Hipócrates.
E) o Prêmio Nobel foi concedido a 11 mulheres.
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